domingo, 31 de julho de 2011

RENATO RUSSO DO CÉU AO INFERNO

Foi inspirada em Léo que Russo criou “Eduardo e Mônica”, seu primeiro grande sucesso. “Chegamos a brigar por telefone porque ele queria parar de tomar os remédios que o mantinham vivo”, conta ela, artista plástica, 41 anos. Léo morava no Equador e fez as pazes com Russo um dia antes de sua morte. Ele lhe telefonara para ler a letra de “Uma Outra Estação”, que havia composto para a amiga – à época, ela morava perto dos vulcões citados na música. No dia seguinte, Léo voltou a ligar. Só o ouviu na gravação da secretária eletrônica. Renato Russo tinha morrido. A notícia foi dada a ela pelo ex-marido, o jornalista Geraldinho Vieira, também amigo de Russo.
Outro amigo, o empresário musical Luiz Fernando Borges, lembra que, no início de 1996, Renato fez uma despedida. Tomou um “porre homérico”, bebendo cinco dias sem parar. Logo depois, passou a tomar o coquetel anti-HIV. Borges nunca ouviu Renato dizer que tinha medo da morte, mas se irritava com os medicamentos. “Ele tinha muitas dores no estômago e enjôos”, recorda. Até hoje, ele vai ao apartamento do amigo. “O quarto dele está igualzinho. Os móveis, os quadros, está tudo lá.” Parte disso deve ser transferido para o memorial do cantor que será construído em Brasília. Borges teve autorização para fazer um documentário sobre Russo.

O FILHO Um mês antes de completar 29 anos, no Rio de Janeiro, Russo telefonou para a mãe em Brasília e fez suspense sobre uma novidade. Ela achou que era sua mudança para a Inglaterra. Russo tinha o sonho de gravar um disco lá. A surpresa veio a ser revelada na data do nascimento de seu filho, na noite de 29 de março de 1989. Da maternidade, ele ligou: “É menino, mãe!” Giuliano ganhou nome de santo, como prometera na música “Pais e Filhos”.

Quando Russo morreu, aos 36 anos, foi noticiado que o filho era adotivo. A família reafirma a história contada por ele, de que tivera uma relação fugaz com Rafaela Bueno, uma fã carioca. Os pais da moça não apoiaram a gravidez. Na primeira semana de vida, Giuliano foi para as mãos da tia de Russo, Maria do Socorro de Oliveira, que morava na Ilha do Governador, na zona norte do Rio. Rafaela morreu num acidente um ano depois. Na mesma época, o artista mudou-se da Ilha – onde morou com os avós, a tia e Giuliano – e quis criar o menino em seu novo apartamento, em Ipanema. Os pais o convenceram a dar a guarda de Giuliano. Com 11 anos, ele mora com os avós em Brasília, os quais considera seus pais.

SEQÜESTRO Os pais de Russo não permitem que o menino seja fotografado. A proteção foi redobrada, a conselho da polícia, quatro meses após a morte de Russo. No apartamento do Bloco B da Superquadra Sul 303 do Plano Piloto, em Brasília, onde Giuliano morava desde o segundo ano de vida, Carminha recebeu uma denúncia anônima por telefone. A pessoa disse que Giuliano, então com 7 anos, seria vítima de um seqüestro. Assustada, ela correu ao Centro Educacional Maria Auxiliadora, onde o neto estudava, a um quilômetro de sua residência. O avô acionou o grupo anti-seqüestro da Polícia Militar. A polícia detectou pistas sobre um plano de seqüestro e descobriu que pessoas estranhas chegaram a acompanhar os passos de Giuliano. A família mudou de endereço.

Renato Russo adorava crianças. A família argumenta que, por isso, especulou-se que Giuliano seria filho adotivo. Na mesma época de seu nascimento, a tia de Russo levou para a casa da Ilha do Governador um bebê de nome Thaísa. “Ela era o xodó dele”, lembra sua mãe. Um dos segredos que o músico compartilhava com a mãe era o desejo de comprar uma casa e enchê-la de crianças órfãs. Meses após sua morte, a família descobriu atos generosos. Seus pais foram procurados por um jovem paraplégico desesperado com a morte do compositor. Relatou que desde que perdera o emprego, recebia ajuda financeira do roqueiro para manter seu tratamento. “Passeávamos em Nova York em 1989 quando Renato tirou do bolso um bolo de dinheiro para dar a um rapaz sentado na calçada, que segurava o cartaz: ‘Sou soropositivo’”, conta Léo. Isso aconteceu antes de saber que era soropositivo. A generosidade de Russo era unânime entre os amigos. A atriz Denise Bandeira, que foi sua namorada antes de ele definir-se pela homossexualidade, lembra que dar presente aos amigos era compromisso sério. “Antes de um aniversário, ele fazia uma pesquisa minuciosa sobre o presente mais adequado. Na dúvida, comprava vários”, conta. Para Denise, sua capacidade de ir de um extremo a outro era incrível: “Ele podia se atirar ao chão num show para 10 mil pessoas e depois, em casa, mergulhar concentrado em sonetos de Shakespeare”.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Marchetteiras: Legião Urbana ou Urbana Legio Omnia Vincit



É difícil pra mim, dizer qual das bandas de Brasília sou mais fã. Não é demagogia. Mas sei que, do trio de ferro dos anos 1980, as que mais escutei os discos foramLegião Urbana e Plebe Rude. Desse período gosto de muita coisa do Capital Inicial, o problema é que eu não consigo até hoje digerir os teclados e arranjos de Bozo Barretti (nada contra a pessoa).

Mas o que quero falar aqui é das incríveis ideias e letras de Renato Russo, dos barulhinhos de Dado Villa Lobos e da limitação técnica de Marcelo Bonfá. Quequímica, hein? Não, não me esqueci de Negrete, mas Legião nasceu trio e morreu trio. Renato Rocha é um grande baixista e sua contribuição, entre 1984 e 1988, foi de sumaimportância.

Estou aqui escrevendo e escutando pela zilhesézimavez o meu disco preferido: O Descobrimento do Brasil. Até arrepia. Considero, ao lado do Dois, o mais perfeito da discografia. Não que os outros não sejam... hehe. Mas este é o mais perfeito. Tudo: produção, timbres, arranjos, composição, letras, direção de arte, qualidade, e até mesmo o posicionamento das faixas no disco. O peso de “Do Espírito”, “Um Dia Perfeito” e “La Nuova Gioventú”, ao lado de coisas lindas como “Giz”, “O Descobrimento do Brasil” e “Só Por Hoje”. Tudo perfeito.

Renato Russo era um roqueiro convicto e gostava de aplicar em sua banda o que via nas bandas e artistas que admirava. Imagine você criança: o menino apaixonado por carro vive fazendo desenhos de carros pelos cadernos e livros; a menina apaixonada por roupa não faz outra coisa senão desenhar roupas nos cadernos. O garoto vai crescer e se tornar um grande mecânico ou piloto ou engenheiro, e será o melhor de sua área; a menina ao crescer será uma grande estilista ou uma grande editora de moda.

Foi assim com o garoto Renato Manfredini Jr. que gostava de criar suas bandas imaginárias, bolava repertório, biografia das bandas, nomes dos discos, crises entre os integrantes e todos os detalhes de carreira. O garoto cresceu e naturalmente se tornou umband leader. Tudo o que criou e aprendeu com seus ídolos ele pôde aplicar de verdade.

Lembro que Renato recusou por muitos anos conceder entrevistas sem a banda toda estar junta. Todo mundo queria uma entrevista solo, mas ele fazia questão de mostrar que se tratava de uma banda de rock. O que de fato era.

A concepção, a idéia, as letras e toda direção da Legião Urbana era de Renato Russo, mas é impossível dizer que a banda era só ele. Dado e Bonfá não eram meros expectadores das idéias de Renato. Muita coisa veio deles.

Isso não é uma regra, mas quando você quer aprendere fazer por gosto e por tesão, você acaba naturalmente colocando um toque pessoal no que criou. O melhor exemplo disso é o punk rock. Veja a tosqueira que era Ramones, Sex Pistols, Clash, Generation X, Buzzcocks,Talking Heads e outras. Por não saberem tocar todas elas encontraram personalidade e, mesmo fazendo parte do mesmo movimento, são bem diferentes. Cada integrante se virou para aprender. Agora diz pra mim que Dee Dee Ramone era um péssimo baixista ecompositor.

Renato Russo, Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá aprenderam juntos. Aprenderam se divertindo. Aprenderam com os amigos e com as outras bandas. Aprenderam nas conversas, nas baladas, nos ensaios, nos showzinhos toscos e depois nos mega shows.

Naquele início dos anos 1980 cansei de assistir a showsda Legião com guitarra e baixo desafinados. Era típico daquela época longos intervalos entre as músicas para que os integrantes pudessem afinar seus instrumentos. Afinador eletrônico era coisa de banda gringa famosa e rica. Nego ficava no palco tentando afinar de ouvido mesmo. Mas essa coisa de tocar desafinado nessa época não era privilégio só da Legião.

Lembro de quando a banda estava no Rio gravando o primeiro disco. Chegavam a Brasília cheios de histórias e todo mundo queria saber como era tudo. Também me lembro da minha decepção ao escutar o disco, quando ele ainda não havia sido lançado. Algumas cópias, sem capa e chamadas de provas, rodavam pela Turma e uma delas parou em casa. Isso aconteceu no finalzinho de 1984.

Escutei me perguntando: cadê a Legião Urbana que eu conheço? Nessa hora senti na pele (como fã) todas as histórias envolvendo as discussões sobre arranjos e produção. Certa vez estava eu gravando o disco prova (muita gente da Turma me deu fitas para gravá-lo), quando chega em casa Bonfá e Buticão para dar carona às minhas irmãs. A reação imediata de Bonfá foi pedir para eu tirar o disco e continuar a gravação depois.

Não sei dizer quantos shows da Legião eu assisti. Osmelhores aconteceram entre 1983 e 1988. E os melhores dos melhores aconteceram entre 1983 e 1985. Gostava de ver Renato tocando baixo. Tocava muito, pelo menos eu moleque ficava ali babando. Suas linhas de baixos são ótimas e as demos da banda estão aí até hoje para provar o que digo, assim como muitas gravações de shows antigos.

Até onde minha memória deixa lembrar, o último show maravilhoso que vi foi o que ocorreu no Projeto SP, em 1988, logo após o trágico show do Mané Garrincha. Esse show do Projeto existe pirata. É a Legião fazendo dois em um: um show só de covers e no bis só músicas autorais. Renato empolgado comeu flor quando jogaram um buquê de rosas no palco. Depois do show disse que estava arrependido, que foi horrível e que nunca mais iria comer flor... jeje.

Depois que Negrete saiu, a banda passou a contar com músicos de apoio ao vivo. Odiava isso. Nessa fase acho que fui a apenas dois shows. O último que vi foi no estádio Palestra Itália. Uma bosta. Nem tenho o disco ao vivo que saiu, nunca o escutei, não faço questão e passo longe dele.

Mas ao contrário do momento ao vivo, os discos desse período pós-Negrete são estupendos. Na verdade estou falando de três discos: As Quatro Estações, V e O Descobrimento do Brasil. Os três são de arrepiar. São ao todo 36 músicas. O domínio de estúdio que a banda passou a ter a partir do Dois é nítido para qualquer fã. Agora o que percebo – aí é um olhar pessoal – é que, com a diminuição dos shows, a dedicação em estúdio foi maior. O gosto de Dado pela produção, engenharia também acredito ter aflorado mais nos anos 1990. Sim, o Músicas para Acampamentos é maravilhoso e escuto muito também, mas me refiro aos discos de inéditas.

Desse período não conto com A Tempestade e Uma Outra Estação. Gosto desses discos, mas pra mim é um período nebuloso e como fã me dá um aperto no coração ao escutá-los. Adoro os dois: “Natália”, “Música de Trabalho”, “Soul Parsifal”, “Uma Outra Estação”, “As Flores do Mal”, “A Tempestade”. Mas é difícil ouvir a voz guia de Renato Russo. São discos inacabados.

Podia ficar aqui escrevendo horas e mais horas sobre cada disco, cada música, cada estrofe, refrão, capas, mas deixo pra depois.














sexta-feira, 8 de julho de 2011

Música Eduardo e Mônica sai da vitrola e vira filme na internet

Para marcar este 12 de junho a história de amor mais cantada do Brasil virou filme. Em parceria com a produtora 02 Filmes, do diretor Fernando Meirelles (Cidade de Deus" e Ensaio sobre a Cegueira), uma empresa de telefonia celular prestou uma homenagem a Eduardo e Mônica, clássico da Legião Urbana lançado há 25 anos. No vídeo, divulgado na terça-feira (7), a companhia recria os passos do casal que deu certo apesar das diferenças.



A homenagem, revelada aos poucos, chegou a ser anunciada por sites e blogs como a produção de um longa metragem inspirado na canção. A O2 Filmes, no entanto, diz nunca ter divulgado a campanha como se fosse um longa.

A confusão se deu em meio à produção do filme Faroeste Caboclo, longa metragem inspirado em outra das músicas mais famosas de Renato Russo.