quarta-feira, 9 de novembro de 2011

ENTREVSTA COM OTACILO D' ASSUNÇÃO(OTA)

Otacílio d´Assunção, mais conhecido como Ota, jornalista, desenhista e editor, o homem forte da “ex-revista” MAD e o responsável pela publicação de vários títulos clássicos no Brasil, como Ken Parker, Tex, Diabolik, Spektro, mas que agora está voltado para o público infantil, com o projeto Oi Turma, da Oi Futuro (que é uma instituição cultural independente que promove inclusão social, patrocina escolas pelo Brasil todo e tem dois Museus das Telecomunicações (no Rio e BH) que são referência mundial).

Num papo divertido, ele explica tudo isso e também fala sobre a sua maior diversão atual: o OtaTube.

1) Ota, você esteve ligado à revista MAD brasileira por 34 anos e esse cartão de visitas fez com que seu nome se tornasse sinônimo de irreverência e ironia, chegando mesmo a zoar com a cara do próprio Alfred E. Neuman, numa brincadeira com a banda Planet Hemp. Houve alguém ou algum fato que você tenha se frustrado por não ter podido tirar onda enquanto editor da MAD?

As séries da Mad da década de 2000 em diante foram de baixo orçamento. Muita coisa ficou de fora. Eu não podia chamar todo mundo pra trabalhar. Toquei enquanto pude.

2) Algumas pessoas desconhecem o fato de que você escreveu um livro sobre Carlos Zéfiro, editou revistas de terror (Spektro) e de western (Tex), e foi crítico de cinema (Cinemin). Desses projetos todos, qual ou quais lhe trouxeram mais satisfação pessoal?

Quanto ao Zéfiro foi uma pesquisa que tomou uma ano inteiro (1983) e havia pouco material de pesquisa, já que na época ele ainda era anônimo. A Cinemin foi um trabalho intermediário entre a série da Mad (da Vecchi). Eu não era crítico, era co-editor da revista e ajudei a consolidar ela. Desses projetos citados na pergunta o que mais me trouxe satisfação foi editar as revistas de terror da Vecchi, não só a Spektro como as outras da mesma linha. A coisa estava indo bem e, se a Vecchi não tivesse falido, acho que teríamos alcançado patamares maiores. Muito antes de começarem as séries de cross-overs (Crise nas Infinitas Terras, etc.), eu estava planejando uma mega-saga que iria misturar todos os personagens nacionais da Vecchi, tanto os de terror como os cowboys (Chet e Tony Carson). Estava na pauta, em 1982, o Chet virar um fugitivo, ser perseguido pelo Tony Carson e vir parar no Brasil onde encontraria a Sinhá Preta, a Família Padre Benedito, os Monstros do Hotel Nicanor e envolveria até viagens no tempo.

3) Das várias editoras nas quais você trabalhou (EBAL, Vecchi, Record, Mythos, Panini), qual foi a que lhe deu mais liberdade criativa ?

A Ebal foi uma escola onde aprendi tudo. Na Vecchi eu tive oportunidade de lançar e criar mais coisas, devido à diversidade de títulos, na Record eu tinha mais autonomia. Essas foram boas. O que veio depois nem tanto. Deu mais dor de cabeça do que prazer.

4) O OtaTube é uma forma descontraída de destilar veneno na internet. Seus vídeos já sofreram boicote por parte do Youtube, mas mesmo assim você não pára de fazê-los, bem como de ir atrás de verdadeiras pérolas do escracho e da bizarrice. Mas, em contrapartida, você faz parte do grupo de criação do Oi Turma, projeto da Oi Futuro para crianças. Como é fazer dois projetos tão distintos ao mesmo tempo?

O Otatube não é pra destilar veneno. Se precisar de veneno, destilamos, mas também tem coisas mais lúdicas. A premissa é que “qualquer coisa pode virar outra coisa”, então misturamos tudo com tudo e sai algo diferente. É pegar uma obra de arte ou criação, ou mesmo um lixo qualquer e fazer outra criação em cima. Não há compromisso com nada. A idéia surgiu porque os vídeos do Youtube demoram horas pra carregar e eu faço tudo muito leve. E também como uma sátira de que qualquer idiota pode postar qualquer vídeo vagabundo no Youtube. Então eu crio todos os vídeos com se fossem milhões de pessoas e posto, mas é tudo fake. 90% dos vídeos do OtaTube são feitos por mim com nicks diferentes, como se fossem pessoas diferentes postando, e há alguns personagens recorrentes como o Vovô, que é uma espécie de Forrest Gump do OtaTube, é um Ota de 119 anos de idade que passou por todas.. Tirando o que o Kemp e o Pablo Carranza fazem, e mais uma meia dúzia de submissões espontâneas, o resto tudo sou eu que faço. Até os da Chiquinha, já que ela não anima. Além de servir como terapia, esse formato me permite experimentar todas as técnicas e inventar novas coisas. Eu aprendo enquanto faço os OtaTubes. A meta era eu fazer um por dia, mas quando dá eu faço. O que me dá mais prazer é quando eu consigo acordar, fazer um Otatube e depois começar a trabalhar “de verdade”… Atualmente estou envolvido até os ossos com o projetoOiTurma, então a produção está mais devagar. O OiTurma está sendo desenvolvido para o Oi Futuro e é um site para crianças. É esse público que quero atingir e fazer a cabeça deles. Eles me deram carta branca para bolar tudo, não enchem o saco e elogiam tudo o que apresento; acho que estamos no caminho certo. O que está no ar é a ponta de um iceberg, tem muito mais em produção. Estou criando jogos, comandando uma pequena equipe, sou o cérebro por trás de tudo e posso trabalhar com quem eu quiser. E as coisas estão funcionando. Está dando certo. E acho que muitas crianças vão aprender se divertindo. Estou formando o meu público para as próximas décadas. Adoro trabalhar pra crianças, inclusive porque penso como uma. E procuro transmitir os valores certos. O mundo está muito estragado e o único jeito de consertar isso é ensinar o caminho certo para as crianças.

5) Sua popularidade é tão grande que você mal entrou no twitter e já conta com mais de 300 seguidores. Já recebeu até ameaça de morte por e-mail. Afinal, vale a pena ser Idi-Ota?

Descobri que era mais popular do que pensava. Acho que minha popularidade vem do tempo da Mad. A Mad sempre foi uma revista muito querida que todo mundo leu durante uma parte da vida, a adolescência. Então juntando todos os ex-adolescentes dá um montão de gente. Por isso, todos se lembram de mim. A maioria diz que fui eu que os ensinei a pensar. Espero que daqui a uns vinte anos venham me cumprimentar do mesmo jeito “puxa eu cresci acompanhando o OiTurma, prazer em te conhecer”. Algo como o que aconteceu com o Ziraldo, que tanto é apreciado pelo pessoal que leu Pererê como os que leram Menino Maluquinho. É legal criar algo do zero. Mas tenho os outros projetos dos desenhos animados, não paro de ter ideias. Acho que essa mídia dos quadrinhos não tem muito futuro, as coisas precisam se mexer mais, quero misturar as duas linguagens, quadrinhos e animação e interatividade. Não sei se vale a pena ser idi, mas com certeza vale a pena ser Ota.